quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Conto: O Azul e O Vermelho

Tive a ideia dessa maluquice conversando com um vizinho coisa de vinte anos atrás (sim, vinte anos de verdade, foi lá em 1990) e fui botar em prática mesmo alguns anos atrás. Prometi ao Schias e ao Andrade (da Kombo Podcasts, da qual faço parte) tentar converter isso em podcast, e o farei em breve, mas como já tinha divulgado antes internet afora, não vejo mal algum em colocar por aqui.


Estou colocando também o link para a versão Google Docs do conto, com a formatação original planejada - incluindo algumas piadas visuais e comentários. Mas tentei fazer o melhor possível com o lay-out do próprio blog (as notas de rodapé originais podem ser lidas passando com o cursor sobre os símbolos no meio do texto).


Não tenho ainda muita experiência em escrever humor, mas foi uma tentativa. Fica como singela homenagem a dois super-heróis muito conhecidos!


O Azul e o Vermelho


Aviso aos leitores:
Não é nossa intenção, de forma alguma, desrespeitar a lei internacional de direitos autorais sobre propriedade intelectual. Esta produção não visa, sob nenhum aspecto, o ganho de lucro ou de nenhum tipo de vantagem sócio-econômico-cultural. Este conto é um mero exercício de imaginação, devendo também ser ignorado para fins de cronologia de ambos os personagens. E A O D F. Impresso pela Associação Nacional de Oftalmologia.

Posto Alfandegário do Novo México – Terça-feira, 22:25

A noite transcorria vagarosa como só a própria noite poderia transcorrer.

Claro, Eduard Stalts gostaria de arrancar com as mãos nuas as amígdalas de qualquer pessoa que lhe afirmasse isso neste momento. Não que isso fosse grande coisa, já que ele gostaria de arrancar com as mãos nuas as amígdalas de qualquer um que porventura viesse a ter qualquer tipo de contato social com ele. Seu psicanalista dizia tratar-se de um raríssimo e complexo caso de distúrbio pseudo-projecionista sobre a operação de retirada das amígdalas de sua irmã mais velha, quando ele tinha apenas seis anos.

Stalts quis lhe arrancar as amígdalas.



Acendeu outro cigarro e continuou fitando o nada sem fim do deserto fronteiriço entre os Estados Unidos da América e o território mexicano. Por que cargas d’água mandaram-no para aquela panela a céu aberto? Tudo bem, sua resposta para o seu superior, o Sr. Jones, dois meses atrás, sobre o melhor local que ele poderia encontrar para os relatórios atrasados não foi das mais ortodoxas.

Mas, afinal, existem coisas piores do que espalhar todo o conteúdo de uma cesta de lixo sobre a mesa da chefia .

Deu outra tragada e estava prestes a dar uma escapadela quando...

- Chefe, temos outro espertinho lá atrás. – o auxiliar disse para Stalts, entrando calmamente na sala e sorvendo vagarosamente café de uma caneca fumegante, com os dizeres “Melhor Fiscal Alfandegário do Mundo”.

Stalts resmungou, se levantando.

- Já é o terceiro, só está noite! Porque esse bando de babacas não tenta cruzar a fronteira na surdina, como qualquer refugiado decente. Lá, pelo menos eles são problema da Guarda Nacional. Mas não, sempre tem um mentecapto sem visto que tenta jogar um papo mole... Eu já vou, não me olhe com essa cara!! Qual é a desse sujeito?

- Disse que veio atrás daqueles dois bandidos que cruzaram a fronteira alguns dias atrás. Pelo menos imaginação o cara tem...

- Tem algum documento, pelo menos?

- Sem passaporte, só uns folhetos esquisitos sobre a Disneylândia. E a identificação mexicana diz que o nome dele é Roberto Goméz Bolaños.


Escritório do Editor-Chefe do Planeta Diário – Terça-feira, 22:30

- Ok, pessoal, silêncio, vamos ouvir!

Antes que Perry White sequer terminasse a frase, todos já havia silenciado e prestavam intensa atenção a uma pequena televisão sobre a escrivaninha. Na tela, um jovem de sardas começava a falar.

- Boa noite, este é o Diário de Metrópolis, segunda edição, com as principais notícias do dia. Eu sou James Olsen, e estarei com vocês durante a recuperação do nosso apresentador habitual, Jack Hilton. Melhoras Jack!

- Eu falei para ele não dizer isso – reclamou Lois Lane na sala.

- Shhhh!!

- Hoje com vocês – continuou Jimmy – as notícias do dia, os resultados dos jogos da rodada, e a previsão do tempo para amanhã. – virou-se para a outra câmera no corte, enquanto o fundo do cenário apresentava uma figura estilizada de uma arma.:

- Crime internacional; segundo informações do FBI, dois perigosos bandidos mexicanos atravessam o país e tem provável rota para Metrópolis. A Inteligência Policial mexicana – pigarro discreto – passou a informação que os foragidos Rámon Valdez Castillo e Carlos Vilagrán, conhecidos no México pelas alcunhas de “Tripa Seca” e “Quase Nada”, respectivamente, atravessaram a fronteira no sábado à noite.

- Agentes do FBI e da Imigração não conseguiram localizá-los, mas uma testemunha afirmou ontem à noite ter visto dois sujeitos cujas descrições equivalem às dos delinqüentes, na rota 102, sentido Metrópolis. As autoridades locais avisam que já estão cientes e pedem à população que tomem medidas preventivas. Os bandidos são procurados por assalto à mão armada, falsificação, formação de quadrilha, seqüestro, tentativa de assassinato, entre outras acusações. Segue Ana Kramer com reportagem na fronteira.

Porém, antes o corte fosse feito, Jimmy emendou para o lado, em tom informal.

- Essa galera com medo de dois bandidinhos mequetrefes! O Super.... – e voltou-se, branco e assustado para a câmera, após um sussurro rápido, no que foi seguido pelo corte para a reportagem gravada.

- Ohhh! – foi o som geral na sala.

- Eu sabia que ele ia dar uma fora! – acrescentou Lois.

- Dê um tempo ao garoto, isso acontece. – disse Clark Kent.

- Se eu conheço bem o diretor do Diário, não vai acontecer mais. – sentenciou Perry, acendendo seu charuto.


Posto Alfandegário do Novo México – Terça-feira, 22:43

Stalts não entendia nada do que o tal Roberto falava.

Não que ele apenas falasse em espanhol, como grande parte dos mexicanos que tentava cruzar a fronteira. Ao contrário, ele falava claramente e sem sotaque, ainda que seu jeito de falar era estranho; sua boca se mexia de uma forma, mas o som parecia sair de outro jeito...

O grande problema era que ele não falava coisa com coisa.

- Deixa eu ver se eu entendi direito: você é formado em Engenharia, certo? – questionou Stalts.

- Sim, mas não exerço essa profissão.

- E qual atividade exatamente você exerce?

- Vamos dizer que eu sou famoso.

- Sério? – Stalts ergueu uma sobrancelha – E onde é famoso?!? No cinema?!?

- Bem, muita gente me vê na TV...


Corredores do Clarim Diário – Terça-feira, 22:45

Clark acabara de se despedir de seus colegas, quando resolveu dar uma passada no banheiro. Assobiava alegremente quando uma voz feminina distante chegou em seus ouvidos.

- Socorro, me ajudem! Superm...

No espaço de tempo que se leva para piscar os olhos, uma conhecida figura azul e vermelha voava pelos céus de Metrópolis.

Superman tentava identificar o local exato do chamado, mas a brusca interrupção atrapalhou sua superaudição. Sabia que vinha de algum ponto ao norte, mas demorou preciosos minutos vasculhando as ruas, antes que captasse nova conversa:

- Soc...

- Shhh, não adianta gritar, ele não vai ouvir você. – o tom masculino era autoritário - Há dezenas de pessoas na cidade, acha que apenas você vai ser atendida? Passe logo a bolsa.

Usando de sua velocidade, Super já quase alcançava o beco escuro de onde vinham as vozes, quando ouviu a mocinha suspirar:

- Oh, e agora quem poderá me defender?!?

- EEEEEEUUUUUUU!!!!!!!!

Super viu o que julgou, num piscar de olhos, ser uma miragem ou alucinação.

Um sujeito baixinho acabara de surgir detrás de uma lata de lixo – embora Super não tenha notado ninguém lá um segundo atrás. Estava vestido com um uniforme vermelho amarrotado, tênis e shorts amarelos, um capuz e duas antenas esquisitas em sua cabeça.

Havia um coração amarelo em seu peito, com a inscrição CH.

A mocinha exclamou:

- Mas é o ...... Chapolin Colorado?!? – erguendo as sobrancelhas.

- Não contavam com minha astúcia!!! Sigam-me os bons!!

E saltou por cima das latas, tropeçando e estatelando-se no chão. Um gato pardo fugiu beco adentro.

Segundos silenciosos transcorreram no beco, embora o Super tinha certeza de ter ouvido um ruído distante, embora esquisito.

- Quem é você? – exclamou boquiaberto o bandido, soltando o braço da jovem.

- Eu também gostaria de saber. – emendou Super.

- SUPERMAN?!? – exclamaram os três, notando apenas agora o recém-chegado.

- Ué, cadê seu saco de dinheiro e a cartola? – indaga Chapolim.

- Como assim?!?

- Super, que b... – interpelou a mocinha, sendo bruscamente cortada por Chapolim.

- Não se faça de desentendido, não! Da última vez, eu peguei os bandidos e você levou todo o crédito às minhas custas!

- Perdão, mas do que você está falando? Eu nunca vi voc....

- Super, eu... Chapolim, olhe.....

- Só um minuto, senhorita. Não me venha com essa não! E eu sei que você também esteve no hotel!!

- Por Krypton, eu....

- CALEM-SE, CALEM-SE, CALEM-SE, VOCÊS NÃO VÊEM QUE O BANDIDO ESTÁ FUGINDO!?!?

O Homem de Aço e o Polegar Vermelho vêem o vulto deixando rapidamente o beco e entreolham-se.

- Suspeitei desde o princípio! Sigam-me os bons!!!

Antes que Chapolim consiga dar um passo, Superman está de volta, com o bandido preso pelo colarinho e desacordado. Chapolim fez caretas estranhas, resmungando:

- Exibido...

- Aqui, senhorita. Uma patrulha já vem vindo, eu já expliquei o que aconteceu.

- Oh, muito obrigada Super! E.... há, obrigado.. Polegar. – Chapolim dá um sorriso de leve:

- Ora, não há de que! Você tem planos para esta noite?!?

Um novo silêncio seguiu-se e Super podia jurar ter ouvido novamente os ruídos.

- Um momento! Precisamos conversar, isto tudo está muito estranho. Quem é, ou o que é você? E afinal, que espécie de roupa é essa.

- Engraçado, ia lhe fazer a mesma pergunta.

Durante um momento apenas, Superman ruborizou, e desejou saber sumir, como o Bruce costumava fazer. A garota deu-lhe um olhar de esguelha e que começou a caminhar na direção da viatura que chegara.

- Tudo bem, vamos esclarecer as coisas longe daqui. Posso te carregar para um telhado próx....

- Telhado?! Por que essa obsessão dos super-heróis deste país com telhados?

Super ergueu a sobrancelha: - Então, o que você sugere?


Rodovia Estadual 102 – Terça-feira, 23:02

Um homem esguio, vestindo um terno surrado, fumava e observava a paisagem deserta, atento aos carros que passavam pela estrada, uma maleta grande firmemente segura em sua mão. Logo adiante estava um Dogde velho e maltratado, parado no acostamento. Embaixo do carro, um outro homem examinava o veículo. Um pouco mais adiante, uma placa indicava que faltam 5 milhas para Metrópolis. E um pouquinho mas adiante..... nada!

O homem embaixo do carro levantou-se, revelando uma grande cicatriz junto ao olho e aproximou-se do outro, que indagou:

- E então, Quase Nada?

- Sim, está com o pneu furado.

- Certo, en.... espere um pouco, disso eu já sabia!

- Então por que não me disse antes?!?

- Eu... burro! Então, dá pra consertar?

- Não, o estepe está vazio.

- Raios! Burro! Por que demorou tudo isso para me contar?!?

- Ei, nem vem! A culpa é sua, você que roubou essa lata velha.

- E me agradeça que o dono deixou as chaves no quebra-sol. Ver todos aqueles filmes policiais serviu para alguma coisa..... Vem, precisamos chegar na cidade e entregar essa coisa antes que apareça algum tira. Vamos pedir uma carona.

- Quem você pensa que é? Rosa, a Rumorosa!?? Ninguém vai dar carona para nós esta hora da noit....

- Ei, amigos, precisam de uma carona?

Ambos voltaram-se para um sujeito bonachão, sorridente, numa caminhonete enlameada, emparelhado com os dois.

Em cinco minutos, Tripa Seca e Quase Nada se dirigiam para a cidade, deixando para trás um gordinho indignado.



Café Downtown 24h – Terça-feira, 23:31

A garçonete do Café Downtown 24h estava acostumada a todo tipo de cliente durante a noite, desde bêbados, trabalhadores noturnos, sujeitos mal-encarados, casais de adolescentes fugitivos e trupes de palhaços malabaristas. Mas pela primeira vez sentiu-se realmente intimidada pelos dois sujeitos da mesa dos fundos.

- Mais café, senhores?

- Não, obrigado. – disse Superman, visivelmente desconfortável, voltando-se para o Vermelhinho – Então você está atrás desses dois, certo? Mas eles não me parecem tão perigosos assim para justificar uma busca de um.... herói além da fronteira. Eu acredito que nossas autoridades podem....

- Tripa Seca e Quase Nada são dois dos nossos mais perigosos mal-feitores. E também são minha responsabilidade, portanto eu vim atrás deles. Além disso, tem mais: eles vieram aqui especificamente para fazer uma entrega ultra-secreta para um bandido bastante poderoso.

- Que tipo de entrega? E para quem?

- Ainda não sei exatamente. O que quer que eles estejam trazendo pode afetar muita gente. Mas eu certamente descobrirei.

- Talvez eu possa ajudá-lo. – Chapolim esteve a ponto de retrucar, mas mudou de idéia. - Você tem maiores informações sobre os dois.

- Tenho esses cartazes com fotos dos dois. – Passando-o para Super. Ele observou atentamente.

- Humm. Certo, um tem uma cicatriz no olho, o outro é careca e usa barba.

- Careca? Barba? O que..... ah, sim, só um minuto!

E inverteu o cartaz com a foto do Tripa Seca. Super achou estar ouvindo coisas, mas pensou ter ouvido aquele som novamente.

- Certo. Vamos vasculhar a cidade e nos encontrarmos naquele beco pela manhã caso não ache nada. Se precisar de mim, bastar gritar.

- Não há necessidade, eu posso localizá-lo com minhas antenas de vinil. – Super olhou desconfiado para os artefatos mirrados sobre o capuz do Polegar. Mas antes de fazer qualquer comentário, precisou pedir licença e foi ao banheiro, caminhando com as pernas ligeiramente trançadas.


Buck’s Alley – Quarta-feira, 00:51

- Tem certeza que o lugar é esse?

- Claro que tenho! O contato disse que nos encontraria, mas por segurança pedi que ele usasse a senha habitual.

Tripa Seca e Quase Nada adentraram o bar, a fumaça de cigarros acumulada sobre as mesas de sinuca, enfurnada de tipos mal-encarados. Mal fecharam a porta, e um sujeito baixinho, de bigode fino e pança proeminente aproximou-se, com uma expressão carrancuda.

- Reintegro.

- Patas de galinha! – respondeu automaticamente Quase Nada.

- Ainda bem! Pensei que iria ter que falar essa bobagem para mais gente ainda. Venham comigo.

Eles seguiram o sujeito calmamente até uma sala pequena nos fundos do bar, cuja chave ele tirou do bolso. Todos entraram e o baixinho trancou a porta.

- Trouxeram a encomenda? – indagou.

- Está bem aqui! – respondeu Tripa Seca, dando um tapinha de leve na maleta – Bem segura comigo.

- Beleza, mostrem.

- Ei, um minuto, disseram que só devemos entregar para o comprador! – replicou Quase Nada.

- Sim, mas eu preciso apenas checar se está tudo bem para a reunião de amanhã. Acham que chegariam perto do homem com uma maleta fechada, sem que ninguém tenha visto? O que você são, burros?

Os bandidos mexicanos entreolharam-se.

- Certo, mas disseram que esse negócio é perigoso fora da mala. Não vai nos fazer mal? – indagou Tripa Seca, com um ligeiro tremor na voz.

- Só se ficar exposto durante um longo tempo. Apenas mostrem.

Tripa Seca destrancou a maleta e abriu. Um brilho verde iluminou a sala.


Céus de Metrópolis – Quarta-feira, 08:37

Superman sobrevoava Metrópolis, pensativo. Por mais esquisito que o herói mexicano pudesse parecer, suas intenções pareciam sinceras, e o que quer que os bandidos estivessem carregando podia ser realmente perigoso – afinal, nem o FBI sabia do que se tratava. A noite anterior fora um fracasso.

Ele já havia passado rapidamente pela redação do Planeta, e agora ia ao ponto de encontro acertado com o Chapolim, o beco da noite anterior.

O beco estava vazio, com exceção do gato, que fuçava uma das latas de lixo. Super aguardou alguns minutos, perguntando-se onde estaria Chapolim.

Subitamente, ele notou um conhecido par de tênis amarelos e meio a alguns jornais, acompanhados de uma respiração alta, profunda e compassada. E novamente os sons estranhos, distantes, parecidos uma gravação mal-feita...

Retirou os jornais e um tampão de papelão, encontrando Chapolim com as mãos embaixo da cabeça, babando pelo canto da boca. Ao ter os jornais retirados, o Vermelhinho remexeu-se, incomodado, e gritou a plenos pulmões, embora ainda dormindo:

- FECHEM A PORTA DA COZINHA!!!!!

Super suspirou.

- Chapolim? Acorde!! Já é de manhã?

- ZZZZ... Huh?!? Hã?! Ah..... – bocejou longamente, esticando os braços.

- Teve bons sonhos? – um certo sarcasmo ressonou na voz do Homem de Aço, para seu próprio espanto.

- Sim, obrigado!

- Por Krypton!!! Afinal, por que você estava dormindo aqui? Passou a noite toda aqui?!?

- Sim, é claro. Estive atento a qualquer movimentação suspeita de Tripa Seca e Quase Nada por aqui. Todos os meus movimentos são friamente calculados!

- Mas que tipo de movimentação suspeita deles poderia haver aqui?!?

- É que o bandido sempre volta à cena do crime!

- Mas eles nunca estiveram aqui!!!! – disse Super, irritado.

- ..... suspeitei desde o princípio.

- Meu pai estelar! Bom, isso significa que você não descobriu absolutamente nada sobre o caso, certo? Maravilha...

- Olha, o melhor que temos a fazer agora.....

Chapolim foi interrompido por uma série de bips esquisitos, agudos e irritantes, muito semelhantes a código Morse.

- Silêncio, silêncio! Minhas anteninhas de vinil estão detectando a presença do inimigo. Vou fulminá-lo com golpes de minha Marreta Biônica! – sem que Superman sequer se desse conta, um martelo amarelo e vermelho, muito semelhante a um brinquedo de plástico, foi jogado na mão de Chapolim. Super não conseguiu, mesmo com todos os seus super sentidos, dizer de onde ela veio . - Sigam-me os bons!!

- Um minuto, afinal onde você está indo??! Cadê esse tal inimigo? Não vejo os tais bandidos em canto algum!

Uma Mercedes preta passou rapidamente pela rua.


Ruas de Metrópolis – Quarta-feira, 08:48

- Eu sabia que ele ia acabar aparecendo! Baixinho intrometido!! – Quase Nada bateu com o punho, no que depois percebeu ser sua própria perna. Uivou de dor.

- Burro!! Não se preocupe, estaremos bem longe antes que ele nos encontre. – replicou Tripa Seca.

- Talvez, mas o Superman estava com ele. E o Azulão costuma ser um problema. – disse o contato deles, agora vestido com um terno impecável, e com um charuto na boca. – Mas se tivermos sorte, eles provavelmente vão começar a se estapear, como fazem esses supertipos quando se encontram.

Quase Nada olhou em dúvida para Tripa Seca, que simplesmente deu de ombros.

- De qualquer forma, não se deixem levar por essas preocupações secundárias. Já estamos chegando no local da reunião. O comprador já está ansioso, há um bom tempo vem procurando outro desses meteoros..

A limusine entrou discretamente no reluzente edifício-sede da LexCorp.


Ruas de Metrópolis – Quarta-feira, 08:57

- Afinal, por que você não usou sua visão de raios-X para achar o Tripa Seca e o Quase Nada?

- Eu já disse, checar tudo à volta seria invasão de privacidade. Não vou prejudicar ninguém com meus poderes.

- Talvez você possa usar seu superolfato para encontrá-los. Eu acho que tenho um pedaço de pano por aqui.....

- E quem disse que eu tenho um superolfato!?!? – disse Super irritado. – Eu não sou um cachorro!!

- Tudo bem, não se irrite. O que você sugere, então?

Super também não tinha idéias, já que checara com seus canais habituais de informação. Seu faro jornalístico aparentemente estava resfriado. Por fim:

- Talvez possamos usar suas antenas para localizá-los novamente.

- Não dá! – respondeu o Polegar – A menos que alguém me chame diretamente, elas só funcionam a curta distância.

- Então vamos patrulhar a cidade pelos céus até você achar um sinal.

- E como?!? Você está acostumado, mas e eu?! Não trouxe nenhuma daquelas pedras de Vênus comigo.

Super ponderou a afirmação durante alguns segundos, mas desistiu de entender.

- Bom, isso não é difícil de resolver...



Sala de Reuniões da Presidência da LexCorp – Quarta-feira, 09:31

Tripa Seca e Quase Nada aguardavam nervosamente na colossal mesa de vidro escuro. Seu contato havia deixado-os na sala e pediu que esperassem um pouco. Contudo, mesmo os três minutos que decorreram pareceram horas para os vilões.

Por fim, um homem grande, num terno italiano preto, cabeça totalmente lisa entrou na sala e sentou-se a cabeceira da mesa, entre os dois.

- Eu sou Lex Luthor, senhores. Estão com a mercadoria?

Tripa Seca demorou alguns segundos para responder.

- Er, hã... ah, sim senhor, está aqui, senhor! – escorregando a maleta pela mesa.

Luthor abriu cautelosamente a maleta. Não que realmente temesse qualquer tipo de ataque à traição ou armadilha por parte dos mexicanos – afinal, gastara os últimos cinco minutos examinando-os com potentes scanners de todos os tipos. Era apenas excitação.

O brilho verde da kryptonita encheu o sorriso de Luthor.

- Fascinante. Parece ser muito pura, vai ser bem eficiente esta pedra...

- AEROLITO!!!! – gritou repentinamente Tripa Seca. Os outros dois olharam curiosamente para ele.

- Como disse?! – perguntou Luthor. Tripa não sabia bem o que fazer.

- Ah...aha...aha...... ha... desculpem-me. Impulso involuntário.

- De qualquer forma. Quem diria que um pedaço de kryptonita tenha caído a tanto tempo no México e meus satélites não tenham conseguido localizá-lo. Segundo foi dito, ela caiu em uma mina de chumbo, correto?

Os bandidos entreolharam-se, constrangidos. Quase Nada se manifesta:

- Bom, o Baixinho só mandou fazer a entrega, só isso... Ah, e receber a grana!

- Sem delongas – disse Luthor, estalando os dedos. O homem que os havia trazido voltou com uma segunda pasta. Abriu-a diante deles, revelando várias barras de ouro. – Conforme o “Baixinho” pediu, barras sem marcas de ouro puro, totalizando dois milhões de dólares.

Quase Nada pegou a maleta, os olhos arregalados , enquanto todos se levantavam.

- Meu assistente os levará de volta ao hotel, pela entrada dos fundos, naturalmente. Pelos telejornais, vi que os senhores atraíram muito mais atenção que o desejado. Sugiro que voltem ao seu país o mais rápido possível. Este cidade tem – pigarreou – alguns problemas para homens que... hum... trabalham em esquemas distintos da lei. Permaneçam discretos e JAMAIS mencionem que estiveram aqui.

Luthor deu um sorriso amplo, porém assustador.

- Foi um prazer fazer negócios com os senhores.

Os bandidos e o assistente de Luthor se retiraram, deixando o mega-empresário e sua nova aquisição sozinhos na sala. Luthor estava entediado. Conversar com estrangeiros sempre lhe pareceu entediante, por mais que sua manha corporativa o obrigasse a tratar corretamente a mais baixa das ralés. Não que isso viesse a importar...

Levou a pedra para a sala contígua, imaginando que não deveria demorar muito agora...


Céus de Métropolis – Quarta-feira, 10:13

Vários transeuntes observaram o céu atentamente naquele momento. Não que a característica figura azul e vermelha do Superman fosse desconhecida; ao contrário, tornara-se parte da paisagem da cidade. A visão do Homem de Aço carregando pessoas também não era de todo desconhecida, seja bandidos sendo levados à cadeia, ou inocentes sendo resgatados de acidentes de carros e quedas acidentais de trinta andares.

Contudo, não era todo o dia que o Super carregava alguém de trajes tão berrantes. Ou de forma tão esquisita.

- Se aproveitam de minha nobreza...

- Preferia ir a pé?

Superman segurava Chapolim pelo uniforme, porém pelas costas, na altura da cintura, algo como um guindaste carregando um saco de batatas. Sobrevoavam a cidade à baixa velocidade, daí chamarem tanto a atenção. Super perguntou, num misto bizarro de impaciência e diversão velada pela situação:

- Detectou alguma coisa?

- Não, mas não se preocupe. Saberemos a presença dos mal-feitores como se fossem fogos de artif...

O topo de um prédio a noroeste dos paladinos da justiça explodiu numa bola alaranjada.

- ício...hein?!?

Superman havia deixado Chapolim na rua em frente ao edifício em chamas, enquanto iniciava uma rápida operação de retirada dos moradores. Sua visão de raios-x revelara que, como a explosão fora próximo do topo do prédio – um do vários hotéis baratos daquela rua – a maior parte dos ocupantes já havia deixado o edifício. Porém algumas pessoas ainda estavam presas entre as chamas.

- Sigam-me os bons! – disse Chapolim, um tanto perplexo, mas guiando as pessoas para fora do edifício.

Superman retirava o último ocupante, quando percebeu que duas figuras suspeitas afastavam-se do prédio sorrateiramente. Eram Tripa Seca e Quase Nada, que ao perceberem os olhos do Homem de Aço, botaram-se a correr sem discrição.

- Chega de fugas por enquanto, senhores. – disse Super, agarrando ambos pelos colarinhos. Entortou uma calha de chuva próxima em torno dos bandidos. Ambos estavam detidos, mas neste momento Super ouviu um grito que lhe gelou os ossos.

Um garoto, de não mais que cinco anos de idade, acabara de precipitar-se do último andar do prédio em chamas. Provavelmente escondera-se atrás dos antigos canos de chumbo do edifício antigo. Por mais rápido que fosse, Super via claramente o garoto aproximando-se do chão, fora do seu alcance.

No auge do desespero, uma buzina foi ouvida.

Super chegara ao garoto, mas o mesmo estava parado, como se preso no tempo, à cerca de três metros do chão.Tinha a cor esquisita. Uma multidão aturdida contemplava um Superman ainda mais aturdido, que contemplava Chapolim Colorado, segurando uma corneta que parecia ser de brinquedo, uma expressão de triunfo no rosto:

- Não contavam com minha astúcia!!

- Mas o que aconteceu?!? – perguntou Super – Como você fez isso?

- Simples, com um dos meus recursos favoritos: a Corneta Paralisadora. Um buzinada paralisa totalmente qualquer pessoa ou objeto. Dois toques devolvem a mobilidade. Segure o garoto, eu vou lhe demonstrar, sim.

Super segurou firme, porém delicadamente o garoto, preparando-se para amortecer a provável queda. O Polegar Vermelho apontou a buzina e apertou duas vezes, lembrando Super um sorveteiro de subúrbio da década de 20. A cor do garoto voltou ao normal e ele recomeçou a cair na velocidade em que parara, mas foi resgatado e posto são e salvo no chão.

A multidão à volta começou a aplaudir. Superman já havia até se acostumado a esse tipo de situação, mas Chapolim não parecia saber bem o que fazer. Super quebrou a cena, antes que uma adolescente na multidão terminasse de lhe escrever o telefone.

- Venha Chapolim, ali adiante tem dois amigos seus com quem você provavelmente vai querer falar...


Escritório do Presidente da LexCorp – Quarta-feira, 10:48

A imensa janela aberta na cobertura do edifício da LexCorp deixa entrar um vento fresco no dia excepcionalmente quente em Metrópolis. Luthor admirava a paisagem pacientemente sentado em sua poltrona.

- Seus planos estão acabados, Lex!

- Exato! Tripa Seca e Quase Nada deixaram escapar que você era o comprador!

Lex voltou-se ligeiramente à esquerda, onde duas figuras coloridas estavam paradas.

- Ah, meu caro Superman! Já o aguardava, por favor, entre. Vejo que trouxe Chapolim; confesso que, quando recebi meus relatórios, imaginava que não passasse de uma piada mexicana.

Chapolim resmungou algo sobre nobreza que o Super não fez questão de ouvir. Voltou ao empresário:

- Desista da sua nova arma, Luthor. O que quer que seja, você sabe muito bem que irei deter antes que cause mal a alguém!

- Exatamente meu caro, escoteiro. – disse Luthor, apertando calmamente um botão em sua cadeira; em menos de um segundo, barras de metal surgiram do chão e indo até o teto, cercando completamente Chapolim e Super – É exatamente por isso que esta arma é dirigida a você.

Com o aperto de um segundo botão, um vão na parede abriu-se, revelando uma luminescência verde. Antes que Chapolim se desse conta do que acontecia, Super estava ajoelhado no chão, contraindo-se.

- Kryptonita!! Er... era isso... a ar...ma....

- Super, você está bem?

Super não respondeu. Embora a kryptonita estivesse devastando sua vontade, de alguma forma queria compensar Chapolim por pergunta tão bem colocada.

- Ah, o doce sabor da vitória. Eu poderia admirar essa cena até o amargo fim, mas percebo que os dois trapalhões que trouxeram a pedra sobreviveram ao meu pequeno presente. Vou até a linha segura providenciar que alguém cuide deles. Quanto a você, Chapolim, ainda não decidi o que fazer a respeito, mas por enquanto pode ir admirando o Homem de Aço se engasgar. Ah, Superman, tente não estar muito morto até minha volta, sim?

Retirou-se pela porta principal, num andar firme, mas entusiasmado. Chapolim agachou-se ao lado de Super.

- Ouvi isso?! Ele esta prestes a mandar alguém assassinar Tripa Seca e Quase Nada. Eles são malfeitores, porém devem ir para cadeia. Precisamos fazer algo!

- Acc...cho... qu... que... tem....os ... u-um... prob.....lema.... mais...... imediato. Con....seg...eu.... abr...ir .....as....b-barras?

- Palma, palma, palma, não priemos cânico!! Isto não será necessário! Posso passar facilmente entre elas!

Mesmo diante da absurdamente forte radiação de kryptonita, Super conseguiu expressar descrença, observando a protuberante barriga de Chapolim.

- Digo que posso passar facilmente entre elas, utilizando uma de minhas famosos pílulas de Polegarina! – disse Chapolim, retirando do bolso às costas o que aparentava ser um vidrinho de remédios. – Basta uma delas, e eu fico reduzido a uma altura de vinte centímetros. Observe só!

Chapolim engoliu um dos comprimidos, e Super pensou que ele havia se abaixado. Porém, ao olhar para o chão, percebeu a mudança que ocorrera no Polegar Vermelho: estava reduzido à altura que dissera, muito embora sua cor também parecia mais brilhante, e ele parecia ligeiramente deslocado, em duas dimensões.

- Fan...tástico!...?

- Não contavam com minha astúcia!!

- Vá... at..é.... a cad..ei....ra.....ape...rt...e.....o.....b....ot..ão.....

- Tudo bem! Sigam-me os bons!!!

Polegar seguiu em direção à cadeira, porém em seu reduzido tamanho demorou mais de um minuto até alcança-la. Tentou pular até o braço da cadeira, inutilmente.

- Vo..lte...ao....no...rm...al..... – disse Super, cada vez mais fraco.

- Não dá, os efeitos das pílulas de Polegarina duram alguns minutos. Eu vou tentar escalar.

Subindo em um dos apoios das rodinhas, começou a escalar o suporte principal. Em certo momento, quase na base inferior do assento, Chapolim desequilibrou por um segundo, mas conseguiu agarrar-se na alavanca de regulagem da cadeira. Aproveitando a deixa, Chapolim percorreu a extensão da alavanca até sua ponta, bem próximo do estofado da cadeira. Com um balanço rápido, consegui chegar ao lado superior do assento.

- Mu...i....to bem.... Pole....gar....

- Vejamos agora – disse Chapolim, aproximando-se dos controles. Apertou com certo esforço um dos botões. As barras de metal baixaram lentamente, deixando no chão apenas o corpo estendido do Superman. – Bem melhor agora, não?

- O.... OU-UTRO!!! – expirou Superman.

- Suspeitei desde o princípio....

Chapolim apertou outro botão, fechando a pesada porta de chumbo que revelara o meteoro. As convulsões que haviam tomado conta do Homem de Aço pararam. Em alguns minutos, Super conseguiu levantar-se, recuperando-se a olhos vistos. Chapolim retornou ao tamanho normal

- Obrigado, Vermelhinho. Sem sua ajuda, eu não teria resistido. Agora vamos pegar Luthor!

- Espere! Espere, espere. O assassino que Luthor enviou deve estar atrás de Tripa Seca e Quase Nada neste momento. Eu duvido que eles venham a me invocar, então você é o único que pode salvá-los agora. Vá, que eu me encarrego do carequinha.

- Mas Luthor é um gênio do mal! Como você espera detê-lo.

- Não se preocupe, eu me encarrego de tudo. Vá agora! Sigam-me os bons!!


13º Distrito Policial de Metrópolis – Quarta-feira, 11:14

- Eu te disse que essa história ia acabar mal pra gente. – resmungou um Quase Nada carrancudo. Tinha os braços algemados atrás das costas.

- Não adianta reclamar agora. Você queria a sua parte da grana que o Baixinho ia dar tanto quanto eu. – retrucou Tripa Seca. Também tinha os braços algemados às costas. Ambos estavam sentados à mesa de uma sombria sala de interrogatórios.

- É, mas não fui eu que me quis cruzar a fronteira. Você devia ter deixado o Chinesinho fazer isso...

- E deixar ele abocanhar boa parte da grana?

- É, olha só o que a gente abocanhou. E por falar nisso, você fica me devendo essa!

- Devendo?!?! – Tripa Seca agitou-se na cadeira. – Devendo o quê?!?

- Por ter salvado a sua vida, oras! Se eu não tivesse jogado a bomba pela janela ela teria explodido na nossa cara!

- Jogado?!? – Tripa Seca fez menção de levantar-se. – Que é que foi, que é que foi, que é que há?!?! Você é que deixou a mala perto da janela, e conseguiu a façanha de cair sobre a mesa e jogá-la pra fora, naquele telhado. Essa foi a nossa sorte!

- Sorte?!? – Quase Nada se se agitou também. – Está me chamado de burro?!?

- E o que você acha?!

Ambos se levantaram e começaram uma briga que certamente teria sido acirrada, se qualquer um dos dois pudesse usar os punhos. Nenhum dos dois parecia ter chegado a um consenso entre ombradas ou cabeçadas , quando a porta abriu-se. Um homem alto em um terno escuro entrou, pigarreando discretamente, no tom exato para que os dois parassem de brigar.

- Senhores... – mostrou a credencial do FBI – vocês são Rámon Valdez Castillo e Carlos Vilagrán?

- Sim, somos. – respondeu um confuso e esbaforido Tripa Seca.

- Obrigado. – dito isto, puxou uma pistola com silenciador, apontou na direção dos mexicanos e disparou.

- Espere, eu sou alérgico a balas! – implorou Quase Nada, esperando sentir a última dor. Embora não sentisse nada, percebeu que havia ficado mais escuro. Recebeu a falta de luz como um sinal da morte vindoura.

Demorou alguns segundos para perceber que a sombra na verdade era um grande homem diante da parca iluminação da saleta.

Antes que o assassino pudesse perceber que suas balas estavam jogadas no chão, totalmente retorcidas, ele já se encontrava fortemente amarrado com o próprio paletó.

- Vocês três esperem aqui! Eu vou explicar a situação ao delegado e solicitar segurança extra para os dois.

Superman esperava que pudesse fazer tudo isso e chegar a tempo de deter Luthor. Não imaginava como Chapolim poderia lidar com a situação.


Escritório do Presidente da LexCorp – Quarta-feira, 11:21

Luthor retornava a sua sala, acompanhado de um par de seguranças armados. Esperava ainda encontrar Superman com vida para aproveitar seu triunfo ao máximo. Também decidira eliminar Chapolim, mas o faria longe dali.

Contudo, ao entrar em sua sala, percebeu que alguma coisa estava errada. As grades e a kryptonita tinham sido recolhidas e nenhum dos dois heróis fantasiados estava à vista.

- Mas o quê?!?! Como pode acontecer?!? Vocês dois, revistem cada cent...

Um toque de buzina foi ouvido. Dois toques foram ouvidos.

- ...ímetro desta sala e.... mas o que significa isto?!!?!

As pesadas armas de seus soldados de elite tinham simplesmente desaparecido. Aliás, algo mais que isso: seus capacetes, coletes balísticos, rádios de comunicação, munição extra e – Luthor não pode deixar de notar – as calças de ambos estavam abaixadas, revelando as ceroulas do Pernalonga e dos Impossíveis de seus envergonhados seguranças. Teria prestado mais atenção nisto se não tivesse percebido que suas calças também estavam ao chão...

Logo ao lado deles o Polegar Vermelho se desdobrava em gargalhadas. Em suas mãos, uma corneta que parecia saída do carrinho de um sorveteiro.

- Como você...!?! Como ousa...?!?! Eu.... eu....eu...... vocês dois, peguem esse maldito!!! – praguejou Luthor enquanto ocultava novamente suas cuecas de seda. Após alguns segundos para recuperar a dignidade, ambos os seguranças lançaram-se impetuosamente contra o Vermelhinho.

Mais um toque, seguido de outros dois toques foram ouvidos.

Agora, ambos os seguranças tinham-se estatelado no chão com um grande estrondo. Tinham sido, de alguma forma, amarrados pelas pernas com o casaco de um terno, que se rasgara quase ao meio.

Luthor deu-se conta que estava sem o casaco de seu impecável terno italiano de U$ 45.000,00.

Sua careca havia ficado subitamente vermelha. E o Vermelhinho tinha lágrimas nos olhos, rindo soltamente no lado oposto da sala. Porém, antes que Luthor conseguisse agarrar o pescoço de Chapolim, ou que seus seguranças conseguissem se desvencilhar, o Polegar apertou a buzina novamente.

Luthor esganava com uma fúria que jamais sentira antes. Podia sentir a traquéia quase sendo esmagada pela pressão de seus dedos..... e olhou fundo no rosto de um dos seus seguranças.

O empresário soltou o homem, que fugiu assustado pelos corredores, seguido bem de perto pelo seu companheiro. Chapolim, agora sentado sobre a mesa do presidente, parecia sentir dores no estômago de tanto rir. Luthor podia sentir o sangue pulsar nas têmporas, um fiapo de baba escorrendo pelo canto da boca, uma raiva muito além de tudo o que sentira. Deixando de lado toda a racionalidade, desferiu um soco na direção de Chapolim.

Uma buzinada. Duas buzinadas.

Luthor sentiu uma tremenda dor ao quase arrebentar seu punho contra um pilar que ele jurava estar do outro lado da sala. Aliás, ele estava do outro lado da sala. Chapolim estava sendo no chão, segurando o estômago.

A dor ajudou a trazer um pouco de clareza à mente de Luthor. Chapolim estava claramente fazendo algo com ele. Seria inútil continuar apenas tentando detê-lo. Luthor aproximou-se de sua mesa e levantou um tampão, onde haviam vários botões. Luthor aproximou-se para apertar um deles...

O choque eu tomou da fiação totalmente desencapada quase lhe fez esquecer o ruído da buzina. Num piscar de olhos o painel inteiro estava aberto, inutilizado. A raiva cega tomou-lhe novamente e ele avançou novamente contra Chapolim.

Porém antes mesmo que Polegar erguesse a Corneta Paralisadora, o todo-poderoso mega-empresário Lex Luthor tropeçou nos restos de seu caro terno italiano.

E então apagou.

- O que aconteceu por aqui?!? – Perguntou um confuso Superman, entrando pela janela do escritório de Lex Luthor. O mega-empresário estava estatelado no carpete.

- Acredite ou não, ele fez isso sozinho...


Saguão Principal do Edifício-Sede da LexCorp – Quarta-feira, 14:05

Um miríade de policiais, detetives, agentes do FBI, funcionários da LexCorp, repórteres, fotógrafos e cães de rua inundava o amplo saguão de entrada da LexCorp. Mesmo com as declarações de Superman e Chapolim, a coisa toda ainda estava muito confusa, o que deixou simplesmente encantados toda a imprensa presente. Um curiosa Lois Lane e um visivelmente aborrecido Jimmy Olsen conversavam com Superman, quando Chapolim, após conversar com o quinto detetive diferente, aproximou-se do Homem de Aço.

- Bem, creio que o Luthor vai ficar na prisão por um bom tempo....

- Creio que não seja o caso. – retrucou Superman – Luthor tem todos os advogados que o dinheiro sujo pode pagar. Ele, infelizmente, vai sair quase ileso disse.

- Bom, acredite, eu mostrei a ele com quanto paus se faz uma andorinha...

Superman já estava quase se acostumando com o ruído estranho que vinha ocorrendo em situações assim. Mas não conseguiu conter a pergunta:

- Afinal, o que aconteceu naquela sal....

- EU VOU PEGAR VOCÊ, SEU INSETO!!!!! VOU ACABAR COM VOCÊ!!!! – Luthor era quase arrastado por dois policiais truculentos, enquanto vociferava para Chapolim. – EU VOU TE SEGUIR ATÉ VÊNUS SE NECESSÁRIO!!!!!

- E eu nem tive a oportunidade de lhe aplicar a Égua Voadora... – retrucou Chapolim.

Depois que a maior parte da multidão estava dispersa, O Homem de Aço e o Polegar Vermelho deixavam o prédio.

- Chapolim, devo confessar que sua intervenção foi essencial. Obrigado pela ajuda!

- Não contavam com minha astúcia!!

- Creio que você vai voltar ao México, junto com os bandidos, não.

- Olha, eu acho....

- Sr. Colorado? – um homem não muito velho aproximou-se dos heróis, vestindo um terno surrado e óculos fundo-de-garrafa. Eu sou Willian Gibson, Departamento de Imigração dos E.U.A. Devido ao caso todo, eu precisaria conferir o seu passaporte e....

- Suspeitei desde o princípio! Acho que devo retornar para casa agora. Nos encontramos por aí, Superman Sigam-me os bons!!!

E sai correndo como um doido, com o agente de imigração no seu encalço, deixando um pensativo Superman.

O Homem de Aço começou a flutuar lentamente, pensando. Como alguém tão atrapalhado poderia ser um herói? Ao menos, sentia que o coração dele estava no lugar correto. Agradeceu a seu pai Kryptoniano por não se ver as voltas com esse tipo de problema.

- Para o alto, e avante!!!

E decolou a toda velocidade em direção aos céus......

... esbarrando espetacularmente no mastro da bandeira norte-americana no topo do Planeta Diário. Mastro e bandeira foram caindo vertiginosamente em direção ao chão. Desta vez, enquanto voava de volta e agarrava o mastro antes que este alcançasse o chão, ouviu mais claramente do que nunca o ruído de antes, algo como uma gravação mal-feita.

Assemelhava-se muito a risadas.


EPÍLOGO: Posto Alfandegário do Novo México – Quarta-feira, 15:25

Um furgão branco do Hospital Psiquiátrico do Novo México tinha suas portas traseiras cuidadosamente abertas, enquanto dois enfermeiros carregavam um homem forte, envolvido em uma camisa de mangas bem longas para fora do Posto Alfandegário.

- Eu não estou louco, eu VI ELE SUMIR DIANTE DOS MEUS OLHOS – Stalts babava pelo canto da boca. – Num segundo ele estava, no outro eu ouvi um monte de bips esquisitos e ele sumiu!! A mala dele ainda está lá, podem ver!!!!

- Certo, cara. – disse pacientemente um do enfermeiros – E eu sou o Superman.

- Há, boa Mike, e eu sou o Chapolim Colorado!

Ambos riram enquanto trancavam Stalts no furgão e preparavam-se para sair.

- EU DISSE, ELE DESAPARECEU!!! AAAHHHHH!!! EU VOU ARRANCAR AS AMÍDALAS DELE!!!!!!!!!!!!!

E o furgão seguiu lentamente estrada a fora, seguido por uma nuvem de poeira....






Dedicado à memória de Jerry Siegel e Joe Shuster
Que um dia seja feita a justiça que eles idealizaram

Dedicado à grande obra de Roberto Goméz Bolaños,
O nosso eterno Chespirito

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