segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Conto: E Então Comecei a Chorar

Essa é uma história menos fantástica e mais emotiva - triste, para falar a verdade. Eu tomei certas liberdades com o processo médico de transplantes para atender a história.



Foi por acaso que eu ouvi aquela conversa, juro! Aliás, antes nunca tivesse ouvido.

Eu não tinha me dado conta que meu queixo estava caído. Já tinha ouvido falar da expressão de ter o chão roubado, mas achava que era um exagero, uma licença poética. Mas a sensação física era idêntica - o frio repentino na barriga, as pernas bambas, o desespero incondicional. Era a mais pura verdade, os poetas não mentiram.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Conto: A Cova

Esse conto também é mais antigo (daí também eu achar ele mais "cru" que os mais recentes), eu escrevi para uma antiga lista de discussão sobre literatura aonde trocávamos nossas criações. Esse é um pouco mais o meu nicho, o terror - embora ele tende mais para o lado de angústia do que de "sustos".



Jovens pés desnudos tocavam o solo úmido e escuro como seda roçando em um antigo tapete. A longa túnica branca arrastava-se lentamente por entre pedras e galhos podres. A lua minguante emprestava seu brilho tosco aos olhos dela, olhos azuis como dois brilhantes diamantes em uma caverna escura. Seu alvo rosto infantil, entrecoberto pelos louros cabelos cacheados, estampava uma sinistra paz enquanto as lápides de mármore branco ficavam para trás. Apenas o alto da colina e sua árvore seca ainda preenchiam sua visão.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Conto: Reflexões - Parte 002

Segunda parte da história. Agora sim as coisas começam a ficar interessantes.



E tudo começou tão inocente como poderia ser, obviamente numa quinta-feira. Além da galera de sempre, o Abreu do Comercial e a Janete, a nossa secretária (que era quase um "mano" da turma, sem frescura nenhuma), bebiam com a gente já havia uns quarenta minutos. Às seis em ponto, feito Ave Maria, chega o Batoré esbaforido e suado, entregando o carro pro manobrista.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Conto: O Azul e O Vermelho

Tive a ideia dessa maluquice conversando com um vizinho coisa de vinte anos atrás (sim, vinte anos de verdade, foi lá em 1990) e fui botar em prática mesmo alguns anos atrás. Prometi ao Schias e ao Andrade (da Kombo Podcasts, da qual faço parte) tentar converter isso em podcast, e o farei em breve, mas como já tinha divulgado antes internet afora, não vejo mal algum em colocar por aqui.


Estou colocando também o link para a versão Google Docs do conto, com a formatação original planejada - incluindo algumas piadas visuais e comentários. Mas tentei fazer o melhor possível com o lay-out do próprio blog (as notas de rodapé originais podem ser lidas passando com o cursor sobre os símbolos no meio do texto).


Não tenho ainda muita experiência em escrever humor, mas foi uma tentativa. Fica como singela homenagem a dois super-heróis muito conhecidos!


O Azul e o Vermelho


Aviso aos leitores:
Não é nossa intenção, de forma alguma, desrespeitar a lei internacional de direitos autorais sobre propriedade intelectual. Esta produção não visa, sob nenhum aspecto, o ganho de lucro ou de nenhum tipo de vantagem sócio-econômico-cultural. Este conto é um mero exercício de imaginação, devendo também ser ignorado para fins de cronologia de ambos os personagens. E A O D F. Impresso pela Associação Nacional de Oftalmologia.

Posto Alfandegário do Novo México – Terça-feira, 22:25

A noite transcorria vagarosa como só a própria noite poderia transcorrer.

Claro, Eduard Stalts gostaria de arrancar com as mãos nuas as amígdalas de qualquer pessoa que lhe afirmasse isso neste momento. Não que isso fosse grande coisa, já que ele gostaria de arrancar com as mãos nuas as amígdalas de qualquer um que porventura viesse a ter qualquer tipo de contato social com ele. Seu psicanalista dizia tratar-se de um raríssimo e complexo caso de distúrbio pseudo-projecionista sobre a operação de retirada das amígdalas de sua irmã mais velha, quando ele tinha apenas seis anos.

Stalts quis lhe arrancar as amígdalas.

A Terceira Dimensão Intelectual

ou "Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Obra"

 (Antes de mais nada, devo dizer que este post foi inspirado no trabalho de meu crítico cinematográfico favorito, Pablo Villaça, do portal Cinema em Cena - daí o grande número de referências ao cinema. Que seja uma humilde e indigna homenagem ao seu trabalho e talvez uma ferramenta para as pessoas entenderem que críticos - à exemplo dos comunistas - não comem criancinhas no café da manhã.)
O Apedrejamento

"Como um crítico não consegue rir disso?"
Se eu ganhasse dez centavos para cada vez que eu ouvi que "tal crítico não sabe nada", eu poderia tomar banho de dinheiro no melhor estilo Tio Patinhas. Mas atire a primeira pedra quem nunca sentiu o sangue ferver ao ver uma crítica negativa de um filme, livro ou outra obra qualquer de seu gosto.

A crítica (seja literária, cinematográfica, televisiva ou qualquer outra forma de arte) é uma atividade ignorada ou pouco apreciada pelo grosso da população. O que pode parecer natural - afinal, o sujeito comum que, sentado no sofá num domingo à tarde, rola de rir ao ver Rob Schneider com trejeitos femininos em Menina Veneno,  com certeza acha que o crítico que massacrou o filme não tem senso de humor. Ou a adolescente, indignada pelos comentários cáusticos sobre os filmes da franquia Crepúsculo, não poupa palavras ásperas sobre um crítico em seu site, blog, Twitter e aonde mais puder encontrar o pobre infeliz.

Mas o que o grande público (e não só eles como uma parcela dos auto-intitulados "inteligentes") não compreende (e nem tenta compreender) é o real papel do crítico, e a noção completa do que é arte e como ela nos influencia. E vamos facilitar a sua e a minha vida com uma metáfora.