quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Conto: Reflexões - Parte 001

Esta é uma história que eu gostaria de desenvolver de forma mais séria, mas como se passa no Universo Marvel - que tem direitos reservados - então vaí como fanfic mesmo. O nome era algo que eu estava deixando para decidir depois, mas fica como nome de trabalho por enquanto.

Novamente, algum conteúdo adulto - só um ou outro palavrão, nada grave por enquanto, mas estejam avisados!



Engraçado pensar que num mundo maluco como esse, a nossa turma sempre foi das mais comuns. Claro todo mundo tem seu dia de cão - como quando o Carlão foi pego pela esposa saindo do motel com a Marcinha da Contabilidade - ela fez o coitado sair correndo pelado pelo bairro. Mas foi engraçado. Ou naquela maluquice com os skrulls, quando um deles tomou o lugar do Batoré achando que ele fosse um herói e o Rei descobriu quando o bicho pediu água no bar. Aquilo foi tenso, mas um dos fulanos da S.H.I.E.L.D. que levou a coisa embora não conseguia parar de rir quando contamos. Mas afora essas e outras, a nossa vida é bem tranquila.



A galera toda se conheceu no escritório da Wallan & Comodoro. O Laurindo e o Batoré acabaram saindo, mas a turma nunca perdeu o contato. Mesmo que um ou outro estivesse enrolado algum dia, sempre tinha pelo menos uma parte da galera na Quinta Distinta.

O Santa Distinta é um barzinho na rua das Figueiras em Santo André, no ABC Paulista. Duas quadras do escritório, tava fácil da galera se reunir para um bate-papo depois do trabalho. E como na época o melhor dia pra todo mundo era de quinta-feira, surgiu a Quinta Distinta, quase um ponto sagrado na agenda de todo o pessoal. Nem esposas, mães ou namoradas podiam tocar nossas quintas. Até a chefia evitava ao máximo pedir hora extra nesses dias. Era o dia da galera.

Me lembro que tudo começou com o Carlão. Tudo sempre começava com o Carlão. Quem conhecia o cara não dizia que ele trabalhava com Informática. Tagarela feito uma dondoca, um poço de bom-humor e alegria. Não me lembro nunca de ter visto ele pra baixo - digo REALMENTE pra baixo. Lembro dele ficar meio caladão quando a mãe dele faleceu, mas mesmo nesses dias ele não resistia a fazer uma graça ou contar alguma piada. Mulherengo como eu nunca vi, a esposa já devia ter feito a malinha dele há muito, de tanto que ele aprontou. Mas acho que nem ela consegue escurraçar alguém como o Carlão. É muito mais fácil desafiar a gravidade - e Deus sabe que nesse nosso mundo maluco gente demais faz isso.

E depois do Carlão sempre vinha o Batoré. Era quase uma dupla. A galera tentou chamar os dois de Capitão e Bucky, mas não pegava - qualquer mané sabe como é difícil zoar um zoeiro. Mas o baixinho do Batoré - cuja semelhança com o personagem da Praça não era tanta, mas bastou pra manter o apelido - não desgrudava do Carlão. Mesmo indo pro setor de pagamentos de uma mega-corporação na capital, eles ainda eram unha e carne. Deus sabe como ele conseguia passar pelo trânsito infernal de Sampa pra chegar no bar às quintas, mas ele sempre estava lá. Beberrão profissional, já fizemos mais de um estagiário malandrão chamar o Hugo tentando acompanhar o ritmo do Batoré. E mesmo virando todas, o filho da puta nunca dava vexame.

Ele era exato oposto - ou como gostávamos de dizer o "gêmeo maligno" - do Leandro; um caxias de marca maior que trabalhava com o Batoré no Contas à Pagar e sabe lá como acabou virando "fixo" na nossa galera. Cara certinho, fiel de tudo à noiva e regulado nos horários como se fosse um relógio suíço. Sempre restringia seu consumo no Distinta a exatamente dois copos, em geral das bebidas mais afrescalhadas que o lugar servia. Por essas e outras ganhou a alcunha de Frescalhão. Mas fora essa moralzinha de freira, sempre foi um cara bacana, bem-humorado e entrava na brincadeira sem fricotes. Pensando bem, foi por isso que ele se deu tão bem com a gente - era uma escada de piadas.

Depois vinha o Reinaldo, o nosso Rei: ao contrário do Batoré, a semelhança física dele com o Roberto Carlos sim era assustadora. O Batoré quis zoar ele uma vez dizendo que ele tinha uma perna de pau e o Rei garantiu pra ele que não, embora faltasse mesmo uma perna. Foi a única invertida que eu já vi o Batoré tomar na vida e ficar sem resposta. Só por essa o Rei já merecia fazer parte da turma. E na maior parte do tempo ele realmente não parecia parte de qualquer turma: calado de tudo, reservado de uma tal forma que poucos no trabalho - mesmo seus colegas da Contabilidade - sequer tinham noção de onde ele morava. Mas era um bom sujeito, bom ouvinte, e com o tempo descobrimos que ele tinha um senso de humor muito oportuno e afiado. Ele poucas vezes abria a boca, mas quando o fazia era para fazer algum comentário ácido e certeiro - como esse para o Batoré.

O Laurindo também era meio calado, mas não tanto quanto o Rei. Mineiro de nascença mas paulista de adoção, era a melhor representação da expressão "come-quieto" que eu já vi. Não que ele fosse tão reservado, mas se você se distraísse, ele aprontava - seja faturar uma morena no bar, seja fechar os livros fiscais da empresa adiantados, ou mesmo tomar um gole da sua bebida sem você se tocar. Um sarro em forma de gente.

E tinha eu também. É engraçado como a gente sempre se considera "normal" e sempre nota as "anormalidades" dos outros, mas de todo mundo eu sempre me achei mais equilibrado. Claro que tenho minhas manias, minha magreza excessiva e altura privilegiada (já cansei de ouvir piadinhas como Professor Línguiça ou Golias Raquítico), mas afora esses detalhes eu sempre me achei mais cuca-fria. E meu gosto por escrever, que rendeu o apelido "oficial" de Veríssimo entre a galera.

E essa era a turma. Claro, sempre tinha mais gente da empresa na nossa mesa da Distinta, mas essa era a nossa galera, os bons amigos.

E também foi todo mundo que se fudeu quando a merda toda aconteceu.

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